quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Salomé quase sereia


Riscos a preto e branco



Porque me pedes sereia
Como a agulha pede a veia
A vida. Não posso dar!
Os passos possíveis são muitos
Podemos avançar juntos
O caminho analisar.

O amar não é ter sorte
Se não for até à morte
Mesmo assim foi partilhar
Um beijo e um momento
Deste meu lábio sedento
Dos teus olhos o olhar

Sereia, oiço o teu pranto
O teu cantar e encanto
Compreende, não vou deixar
A terra que me alimenta
Se por vezes foi cinzenta
É estrela ao brilhar.

Já nos tempos muito antigos
Os três magos e adidos
Deixaram a estrela guiar
O Deus que os esperava
Sobre feno a mãe deitava
O que era de espantar.

Ouro, incenso e também mirra
A oferta era gira
Não se deixou convencer
O menino ali deitado
Virou-se pró outro lado
Antes quis na cruz morrer

Sereia, eu assim faço
Não te vou dar o meu braço
E se assim não conhecer
Dos teus charmes a ternura
Há-de haver uma alma pura
Que me ajude a envelhecer

Velho já, de barbas brancas
Pode ser que as tuas ancas
Veja dançar para Herodes
Se a minha cabeça quiseres
Serás uma das mulheres
Que seduziu os algozes.

Não fui rei, nem sacerdote
E apenas deixei por dote
Umas letras e pensares
Não queiras a minha vida
Pesa antes minha querida
Dos amigos, os pesares.

Guarda bem essa bandeja
Que para mais já não seja
Que para brilhante, espelhar
Da tua alma os recantos
E que haja nos teus cantos
Uma forma de esperar.

Carlos Tronco
Mondeville
20/04/07

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