quinta-feira, 23 de julho de 2009

Assim vai a vida...





A água ia correndo
devagar
sem rumo certo
sabendo apenas
que chegando
se tornaria mais salgada.

A ponte, impávida
por ali ficara
a ver correr águas,
depois de águas.

Unidos por uma só
e mesma sina,
ali se tinham encontrado.

Oposição de posturas:
Uma corrente,
lá ia, sem dar conta
atrás da vida
enquanto a outra
mais pacata,
esperava a morte.

No entanto,
partilhavam um só e único
destino:
quando morresse a ponte
o rio perderia o seu mais fiel
admirador
e não tendo
quem o contemplasse
noite e dia
correria louco
afogar-se
no salgado mar
do esquecimento.

Carlos Tronco
Mondeville
23/05/06

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Vestígios





Do alto das muralhas, pelo tempo vencidas
Se pode contemplar, paz e tranquilidade
Um rio e até as torres erguidas
Completam o quadro silvestre, da cidade

A relva é muito verde, reflecte a esperança
Os narcisos florescem; e dá gosto vê-los
Entre as flores corre agora alegremente uma criança
As muralhas já não servem, terminaram os pesadelos

Nunca mais, tantas mortes; e para que serviram?
Ontem inimigos, hoje quase irmãos
Apenas fizeram chorar, as mães que os pariram

Foi há muito, em algum século passado
Uma guerra, talvez mesmo mundial
Em que o verde campo, ficara encarnado.

Carlos Tronco
Mondeville
18/04/06

segunda-feira, 20 de julho de 2009

O que é a vida afinal?

Cambaleando
tal um sonâmbulo
em instável equilíbrio
sobre um transparente
fio de seda
de uma mágica teia
pronto a perder os sentidos
e deixar-me encantar
pelo olhar mortífero
e sem piedade
do aracnídeo
sinto que a cada passo
melhor adere ao fio da vida
o pé direito
depois o pé esquerdo
transmitindo perfeitamente
as vibrações da minha impotência
ao monstro que teceu a armadilha
perco o equilíbrio
tonto
como embriagado
pelos vapores de um éter celeste
e porque a dor é imensa,
pergunto
será que o Deus que reclama pronto
a minha alma
é uma aranha também?

Carlos Tronco
Mondeville
15/05/06

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Vou contigo

Sinto
como um vazio no peito
como se a alma
sem jeito
estivesse a morrer
já não bate
badaladas
o coração já não sente
do etéreo as chamadas
sinto o inútil da vida
abandonada esquecida
sinto a palavra
sem cor
no fundo o que é o amor?
será das rosas a flor
o perfume do jasmim
apenas fonte de dor?
acredito
é mais que tempo
dar por findo o tormento
confiar a alma ao vento
que a leve para onde for.

Ouves?

O silêncio são palavras
com que grito o tudo, os nadas
e se exprime o coração
São dores há muito sentidas
nos caminhos destas vidas
de amor e de paixão

O silêncio são castigos
ou melhor, talvez abrigos
onde venho repousar
A alma que tanto custa
deixar sempre andar em busca
e a um Deus confiar

O silêncio são promessas
por cumprir, feitas sem pressas
e um dia , se calhar
Da caverna, onde deixei
esperanças de ser rei
sai rainha para amar

O silêncio vai passando
primeiro assobio brando
depois clamor de assustar
Ouvem-se já as pandeiretas
os bombos e as cornetas
musica ou ressuscitar?

Carlos Tronco
Mondeville
13/04/06

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A morte da esperança...China, Irão, etc.

A morte da esperança

De novo as trevas desceram sobre a terra
e o olor de queimado, paira agora aqui
não arderam coisas, foi estranha a guerra
ardeu a esperança, igual nunca vi

nas faces cansadas, desgosto é profundo
a traição foi tal, nem acreditavam
já não há caminho, valido neste mundo
ao ouvir o mal, apenas choravam

uma vez caídos, no chão, reparai
ainda crianças, são os vossos filhos
estendei-lhes a mão, se pretendeis ser pai

levam inocentes hoje para o calaboiço
amanhã será, sempre um novo dia
a sinistra forca, o vosso baloiço

Carlos Tronco
Mondeville
01/04/06

sábado, 11 de julho de 2009

Como se faz?



Como se faz um poema
perguntou intrigada a criança
os olhos repletos de esperança
a alma cheia de alegria
procurava uma via
mas não sabia dizer

Eu apenas disse
(decerto era tolice)
primeiro é preciso querer
querer abrir a alma ao vento
mas também estar atento
ao mundo e saber partilhar
na palavra, num olhar
na lágrima, numa emoção
saber dar o coração
sem ao coração tirar
aquele modo de apertar
e ao corpo inteiro dar
não só sangue, vida também

Primeiro
é só uma palavra
que pouco diz
quase nada
depois duas palavras
já são quase uma frase
uma acção
com três já se conta uma história
de fracassos, de vitória
e assim calma e docemente
não só somos simples gente
somos a força do mundo
buscando cá nas entranhas
no que temos de mais profundo

Sem vício, sem artimanhas
deitamos a barca ao mar
depois de muito escutar
sabeis o que disse a criança?
-Sou poeta, ...se calhar!

Carlos Tronco
Mondeville
24/03/06

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Luta!!!

Diziam ser a primavera e neva,
de branca neve vai cobrindo,
a esperança e tudo o que de mais lindo
cabe na alma pura da criança.

Neva e o frio invade pouco a pouco a mente,
no futuro acabam por não acreditar,
é na juventude que se encontra a semente;
a força do jovem sorriso não matai.

Tu oh Deus inerte o que fazes?
apenas deixais nevar e nada mais
não abandones os teus nobres filhos sob lajes
enquanto engordam de parvoíces televisivas os seus pais

Matar a esperança de um coração
é o crime hediondo, imperdoável
em vez de assassinar, tende a tua mão
à inocência; é valor digno de ser louvável

Carlos Tronco
Mondeville
22/03/06

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Remendos e retalhos

Não deixes a colcha sem remendos
sem o teu sentir, sem a tua alma
por vezes os momentos são tremendos
mas a esperança, o único barco que nos salva

Não deixes que o tempo passe
e ao passar
Fira a cada instante, e em uma chaga
se transforme cada lágrima do olhar

Cada instante vale pela felicidade do instante
Vê como felizes tomam sol os lagartinhos
Como voam, contentes, colibris e outros passarinhos
Não olhes para trás, "bora" lá! Avante!

O futuro é em frente, vem comigo
Ajuda-me a avançar dá-me o teu braço
quisera convencer-te e como amigo
deixar-te o mais ternurento e forte abraço

sábado, 4 de julho de 2009

Sente-se a vida



Fundiu a neve
e de novo
se faz sentir
nas entranhas da terra
o grito da vida,
a essência do canto.

Já se ouve o correr da seiva nos galhos
já se sente
a vontade das flores
serem fragrância
e depois saboroso fruto.

Por enquanto só se vêm ramos
vestidos de nu inverno e sem folhas
mas o clamor da esperança
é mais forte que o berro
das trevas prestes a acabar.

Com o sol do novo dia
renasce uma vez mais
o meu jardim.

Carlos Tronco
Vou falar de ti às árvores
Mondeville
12/03/06

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Andamos

Andamos

e os meus passos

marcados ficaram

nos teus passeios

os nossos laços

lábios que amaram

do peito os seios

e os meus passos

marcados ficaram

perdidos

sem meios

marcados na pedra

tão dura

sem veios

Carlos Tronco
Mondeville
06/03/06