terça-feira, 29 de junho de 2010

Juramentos. E o tempo passa...




Nunca te disse, sonhei
Nunca beijei os teus lábios
Se não sorri, não chorei
Se não falei, foi pecado

Se eram doces ou salgados,
Ousara e pudera ser amado

Se o disse, já vai longe
O tempo dos doces sonhos
Não esqueci, tornei monge
E adoro os teus olhos

A vida é que continua
A minha dor é só tua

O tempo é que não para
E se a alma não se amarra
O coração é volúvel
Passam anos como nuvem

O tempo passa depressa
Quando o juízo regressa
Choro não faz ganhar nada
A lembrança é sempre amarga!

É verdade, assim sonhei
Juramentos. E o tempo passa...


Carlos Tronco
Mondeville
21 juin 2010

domingo, 27 de junho de 2010




"O jornalista João Ferro, que foi um dos fundadores da SIC, em 1992, foi encontrado morto, esta terça-feira, na casa onde vivia sozinho, desconhecendo-se a causa do óbito.

João Ferro trabalhou na agência noticiosa russa Novosti, na RTP e na SIC, da qual foi fundador e onde exerceu durante mais de uma década e até se reformar, integrando atualmente o Conselho Geral do Sindicato dos Jornalistas.

Conhecedor dos temas internacionais, uma das suas últimas participações como jornalista foi um texto sobre o Muro de Berlim, escrito para um dossier especial com que a SIC Online assinalou o aniversário da queda do muro. "

Extracto
http://www.destakes.com/redir/30e3e79f1f...490532839df1185

O João foi o artesão que, com um grupo de amigos muito proximos, ajudou a publicação do meu primeiro livro "O que é a vida afinal ?"

Repousa em paz Amigo.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

À sombra de um velho Tronco




Um dia, cansado, sentei-me. A não ser que tenha dobrado os joelhos. Dobravam-se as pernas, pesava a mente. Algo como a massa da consciência, multiplicado pela aceleração da idade, em uma palavra o peso de um princípio de velhice. Sentei-me e pedi conselho à minha árvore.

Já vos tinha falado da minha árvore?
Naquele tempo plantavam-se soutos. Sabia-se que a vida é curta e que castanhas só provariam os filhos, e mais provavelmente apenas os netos. Castanheiros havia-os com centenas de anos: alguns, 10 homens de braços estendidos, não eram suficientes para os abraçar.
No acto de plantar uma árvore, havia o dom do saber fazer, mas também e sobretudo a esperança no futuro. Um castanheiro cresce devagar e é devagar que se aprende. Devagar e com esforço. Com as estações que passam, com as andorinhas que voam, com a chuva que cai.
A neve é branca.

O meu avô, tinha por ofício carpinteiro: sabia que em matéria de traves, a nobreza do castanho, nada tinha de comparável com a avidez do eucalipto. Como o tinha feito o seu avô, plantou um castanheiro para mim. Como eu plantei um para os meus netos. Terei netos um dia? A sombra já os espera. Porque na vida é necessário parar. Parar para reflectir e nada tal que a sombra amiga de uma velha árvore para pensar na vida. Pensar que, mesmo quando a bolsa de valores sobe ou desce em Nova Iorque, em Londres, (até parece um filme do Cantinflas) a terra continua a girar, exactamente à mesma velocidade, em torno do sol. Por isso é necessário olhar o futuro; plantar hoje para que as gerações futuras possam continuar a crer. Possam enfim acreditar que é no dom de si, na transmissão do seu saber, que o ser humano se glorifica e não na capacidade em roubar as classes operárias, na capacidade a enganar o povo.

O meu avô, plantou um castanheiro, para eu poder ensinar um dia aos meus netos a aplainar uma tábua, a fazer uma mesa, a erguer um telhado, tal como José o ensinou ao Cristo na nossa mitologia cristã, enquanto Maria protegia a sua virgindade. Sentei-me à sombra do meu velho castanheiro e este aconselhou-me. Aconselhou-me a continuar a aprender. O dom de si, a transmissão do seu saber e experiência, nunca são suficientes. Não devem ter limites. Hoje, que as minhas barbas se tornaram brancas, decidi voltar à vida de aprendiz. Porque só quem mantém actuais os conhecimentos pode continuar a transmitir algo útil. Vinte anos depois de ter sido admitido como professor titular (certifié) decidi completar o terceiro ciclo de engenharia mecânica. No oficio de carpinteiro, o essencial no aplainar de uma tábua, não é o render esta o mais lisa possível, mas acariciar a matéria em sinal de homenagem à arvore sacrificada para que a tábua, a mesa, a trave possa vir a existir. Assim, o carinho do gesto, torna-se um acto de amor e não uma simples operação destinada a fabricar, para vender.

Aí esta toda a diferença entre o humano e o profissional. O humano, é sem dúvida profissional quando procura a perfeição do gesto. O profissional que apenas trabalha para angariar fortuna (o que muitas vezes mal chega para cerveja, cigarros e futebol) não só apenas transmite vento, como degrada altamente a sua nobre condição de ser humano. No entanto tem filhos. Um dia terá netos. Que lhes poderá transmitir? Uma conta bancária antes mesmo de saberem limpar o traseiro? Um carro, muito antes de saberem assoar os “moncos”? Nada de nobre poderá transmitir e se não o faz, quem poderá superar as deficiências morais e intelectuais deste pai? Deste avô? Sei. O professor que tanto criticais, é pago para isso. Ter os tomates que vós pais não tendes. O santo professor “fazedor” de milagres: pai, filho e espírito santo em um só homem indigente e mal pago.

Portanto, cada dia que devereis perguntar qual será o futuro dos vossos filhos, orai:
-Ajudai-nos santo professor, pois nós pais indignos, não passamos de uma nojenta parelha de burros.

Carlos Tronco
Mondeville
22/06/10