Acrescentar à letra cor, partilhar da alma o etéreo, mostrar da mão os calos, caminhar, ao lado, em silêncio.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
beijo na nuca
adoraria deitar-me nas tuas costas
deixar-me levar pelas ondas
como quem se atira ao mar
deitar-me para aprender
qual o teu gosto mulher
ouvir as gaivotas cantar
quando se trinca a cereja
por madura que ela seja
tem o caroço no meio
se me deito prà trincar
é para o teu lado acordar
uma mão sobre o teu seio
parece até ser um fado
de um casal enamorado
sem cordas dar à guitarra
é triste estar tão longe
é quase vida de monge
mas um dia há-de ser farra
é triste cantar sozinho
parece tristeza de vinho
e a solidão me embebeda
amar sem ter a presença
da mulher a quem confessa
é mesmo vida de ...pedra
pedra suja dos caminhos
e lá vamos tão sozinhos
por ai a rebolar
poder dizer a verdade
maneira de matar saudade
para quem não pode amar
Carlos Tronco
Mondeville
13/05/10
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Uandala kuia ni e me?
É na poeira dos caminhos,
que melhor se escrevem
as lendas dos amores vadios.
Um dedo desenha letras
de um alfabeto
imaginário
só conhecido por quem ama.
Por vezes aparecem vírgulas
travessões, pontos finais.
Algo então aconteceu:
um beijo,
um abraço,
nasceu um amor.
Suspenso aos lábios da vida,
há que continuar a caminhar,
para que de novo,
as lajes se cubram de poeira
e novas historias de amor se tornem possíveis.
Só o tempo tem o poder de tudo apagar.
Não é amado quem quer.
Mas quem, como Martinho,
Partilha a metade do coração,
Tem mais hipóteses de não caminhar sozinho.
Então a cigana disse:
Vê-se nos teus olhos.
Carlos Tronco
Cabala
06-05-10
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