Vamos...!
Os anos tinham passado. Aves migratórias, tinham voltado e, os filhos
tinham aprendido a voar. Agora eram os netos, que tomavam o rumo do
desconhecido, para onde o destino os chamava. Tu, continuavas ao meu lado. Os
teus cabelos negros, iam branqueando, conforme avançávamos nos caminhos que nos
haviam conduzido. As minhas barbas igualmente. Os primeiros passos tinham sido
marcados pela esperança de uma vida melhor.
Sonhávamos que os nossos
filhos pudessem aproveitar a nossa experiência, pudessem evitar os nossos
erros, para enfim atingir, a geração da felicidade. Mas, tais como os pássaros
que aprendem a voar, os filhos, há muito tinham abandonado o trilho dos anciãos
e cometiam agora, os próprios erros. No entanto, na sua força de convicção, na
rudeza do seu combate, reconhecíamos as cores das nossas velhas esperanças, a
sombra dos nossos antigos fracassos.
Adultos, eram no entanto,
agora, donos do seu próprio juízo. Os velhos que nos tínhamos tornado, já não
podiam justificar a sua própria inércia, a sua cobardia, as suas incertezas com
o preservar o futuro dos nossos descendentes: tinham crescido e voavam com asas
próprias. Então, as pedras do caminho tornaram-se mais pontiagudas, as pernas
que nos moviam, tornaram-se mais pesadas e as costas que nos protegem,
tornaram-se mais doridas. Cada passo dado, parecia agora uma chibatada de um
chicote divino, que não perdoava, o não termos abandonado a esperança. Quanto
dói a esperança. Quanto dói a experiencia. Quanto dói a liberdade!
Caminhava-mos juntos e a
dois, a vida parecia menos solitária. Tínhamos atingido o mar e deixado as
nossas pegadas na areia que as ondas, agrediam por prazer. Tínhamos atravessado
o atlântico e o vento de novo nos havia encaminhado para casa. Tínhamos
procurado a liberdade, mas muitos mais eram os que procuravam satisfazer a
ganância. Eu estaca quando tu vida. Tu fio de Ariadne quando eu perdido. Os
anos tinham passado. A natureza das expectativas, ia evoluindo. Ontem
pretendíamos conseguir. Hoje, apenas desejamos poder aceitar. Longa era a fila
dos discípulos que nos tinha seguido. Cada um tinha transformado as nossas
esperanças, em novos projectos de aperfeiçoamento. Assim, nas pegadas de
outrem, reconhecíamos a hesitação dos nossos primeiros passos. A terra
continuava a girar, e no seu passo de dança, encontrávamos motivo de
satisfação. A multidão tornara-se onda e na cresta dessa onda, se movia agora,
a sensação de felicidade.
A velhice, trouxera consigo a aceitação e na aceitação de si, havia-mos
encontrado o eco à felicidade desejada. Finalmente, morrer nada mais seria, que
atingir a meta, no caminho da vida. Quem seguia, continuaria a procurar, como nós. Assim, atingir
a imortalidade, tornava-se possível.
Quando o cabelo branco se fez raro, voltei-me para a multidão e aquele que me seguia, disse apenas:
Quando o cabelo branco se fez raro, voltei-me para a multidão e aquele que me seguia, disse apenas:
-Eis o meu bordão! A partir de agora, será o teu ceptro e com ele,
encontraras a força para não abandonares os teus sonhos.
-Vamos ! Ainda há caminho para andar...
Carlos Tronco
Baron
14/05/12