sábado, 29 de novembro de 2008

Sonho íntimo



Esta noite sonhei
Sonhei que as mãos não serviam apenas
Para postas
Implorar o perdão divino
Orar

Esta noite sonhei
Sonhei que as mãos não serviam apenas
Para apanhar
Toda a riqueza do mundo
Escravizar

Esta noite sonhei
Sonhei que as mãos não serviam apenas
Para comer pirão
Fazer bolinhas de funge
Engordar

Enquanto sonhava
Ia apanhando os teus cabelos
Ia beijando o teu pescoço
Ia brincando com os teus seios
Ia acariciando o teu ventre

Esta noite eu sonhei
Que as mãos
Podiam tocar a alma

CT
Mondeville
02/03/05

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O amanhã será suave



Sinto-me ligeiro e frágil
Como um floco de neve
Suspenso entre céu e terra
Dançando segundo
A vontade do vento
Sei que o teu calor
Me pode derreter
E então
Nada mais ser
Que cristalina água
Que corre
Em duro chão
Sei
E mesmo assim
Adormeço
Feliz sobre o teu peito
Sentindo o calor
Da tua
Alma

Carlos Tronco “Carpinteiro”
Mondeville
03/03/05

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O milagre das rosas






Dizei-me Senhora adorada
Que levais vós no regaço
Pão, vinho ou algum baraço
Para prender a alvorada?
Amarrar à terra, as mentes
Cegar os olhos do povo
Com milagres, com presentes
Trazer as trevas de novo?
Apodrecer as sementes
Do saber, da inteligência
Roubar e com frequência
Tirar esperanças às gentes
Senhor, eu apenas levo
Das rosas o seu perfume
As pétalas murcharam com o medo
Com o medo do teu ciúme
Levo brancas rosas sim
Brancas como a alva neve
São rosas para quem deve
Chorar uma vida sem fim

Carlos Tronco
Mondeville
12-03-05

Divagações

Perguntei
Ao silêncio da noite
O que procuravas
Aqui
Nesta teia
Que temias tu, sereia
Algum beijo
Ou um açoite
Para
No longínquo anonimato
Deste meio
Virtual
De se amar
A si mesmo
Sem prazer
Olhemos a “tela”
E vemos feio
A nossa cara
Nossas crenças
Nosso ser
Que procuramos então
Juntos aqui
Vida, vidas, teatro
Ou real sentir
A distância
A máscara do tempo
Muralha que defende o sentimento
Qual fracasso escondemos ao ouvir
Letras, letras, letras
Sinceras ou tretas
Confissões ousadas
Palavras pesadas
Sentimentos censurados
Namorados
Mas que sentido dar
Sentir mas não tocar
Não ver sequer
Lágrimas
Escutando o lamento
Amor virtual
Sem pecado capital
O essencial esta salvo
A alma, a alma, a alma
O que não impede de arder
A chama, a chama, a chama
E virtualmente
sofrer...

CT
Mondeville
12/05/06

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Perfume vermelho



Uma flor doce cor de brasa
Hibiscos sagrado do antigo Egipto
Deixou-se levar pelo vento
Sentiu nas pétalas, ter asa

Asas tinha sem saber
Queria aprender a voar
Pediu ao perfume Ser
Se lhe queria ensinar

Encantado o perfume
Disse: segue-me querida
Mas cuidado com o ciúme
Estraga tudo na vida

De aí nasceu a união
Tão famosa e divertida
Entre o perfume paixão
E a florzinha encarnada

terça-feira, 25 de novembro de 2008

CONTINUA A NEVAR



Continua a nevar tão leve
Que sinto o macio dos teus cabelos
Descer do alto
Continua a nevar tão frio
Que sinto o despertar dos teus seios
Em ofegante peito
Continua a nevar tão tarde
Que sinto o cantar das tuas fontes
E dói-me a alma
Neve
Fonte de alegria para toda criança
Que a junta, as bolinhas, que vão rodando
Para construir um mundo maravilhoso
Tomo consciência
Que os cabelos
Os seios
As fontes
Esculpidos em fresca, mas efémera neve
São teus
E longe,
A alma é nossa
Carlos Tronco “Carpinteiro”
Mondeville
01/03/2005

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

SUAVE INFINITO



Aqui começa o caminho da luz
A luz que oculta as candeias
Dos séculos passados
A luz que marca o ponto
No horizonte
Na vida

São cores
Que decoram
Que alegram
Que tentam mudar
São cores que guiam
Passos caminhares, tropeços

Tal como símbolos
Bandeiras
Como fontes
Que atraem
Sedentos caminhantes
E dão à luz a fé

Passamos a acreditar
Em um destino
Que talvez possa ser melhor
Um dia
Quando desabrochar
A madrugada

Dia em que
O horizonte
Seja verde
Como os olhos
Da menina
Dos olhos verdes

Então no dia em que cegos possam ver
A cor da esperança
E que o mar se torne doce
Como o doce dos teus lábios
Cessarão os meus intermináveis passos
De quem procura a impossível felicidade

Os olhos secos de há tanto não saber chorar
Abraçarão a imensidade
Do oceano primeiro
Distraídos apenas
Pelo suave aroma
Das laranjeiras em flor.

Carlos Tronco "Carpinteiro"

Torreira
01/07/06

domingo, 23 de novembro de 2008

Castelos efémeros



Desenhos em areias esboçados
Dão a ideia, que talvez seja possível
Fazer torres e castelos; namoros
Em areias molhadas; são incríveis

A que ponto as janelas brilham alto
Tão alto, que vou aprender a voar
E da verde planície dou um salto
Para o lábios de uma rosa abraçar

Encho os pulmões de ar puro, tal um balão
Tento ser tão leve como uma pena
Agarro-me ao braço do vento e deixo o chão

Acordo de um sonho lindo ao aterrar
Destruindo as torres frágeis: castelo de areia
Se não fosse eu, eram as águas do mar

CT
Mondeville
17/03/05

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Transparente




Um braço estendido
E preso
Em delicados dedos
Um copo
Quase vazio
Repleto apenas
De cativos
Raios de luz
Perdidos
Na transparência
Do vidro

No fundo
Um quase nada
Três gotas
De néctar
Tinto como
O sangue
De um Cristo
Esperando
O milagre
Da multiplicação
Dos pães
Para que
De novo jorre
O líquido sagrado
E que o vinho partilhado
Seja sinónimo de alegre vida

Esperando
Adormece feliz.

CT
Mondeville
3 Maio 06

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Divagações




Vela que um sopro apaga
como apaga o fogo a água
vela até de marear
contigo eu sulco as ondas
nas suas águas profundas
me hei-de um dia afogar

Afogar-me no teu seio
Pelo caminho do meio
À perdição me deitar
Como é doce e comovente
Ser quase nada e ser gente
Capaz de audaz sonhar

Apenas tenho uma voz
com ela conversamos nós
no profundo da garganta
Doem as cordas vocais
perdidas até demais
por vezes ainda encanta

Na garganta tenho nós
Depois voam como pós
de estrelas e de amor
Serram o peito e a alma
são nós já feitos com calma
apertados e com dor

CT
Mondeville
22/03/06

Não te poderei ensinar




Não te poderei ensinar
a andar
de maneira fácil e elegante
sobre estas águas vertidas
pela tristeza da vida
Apenas posso
retirar as pedras pontiagudas
do teu caminho
para que não te firas.

Não te poderei ensinar
a cantar
de maneira doce e sedutora
a saudade, as noites perdidas
no palco que é esta vida
Apenas posso
emprestar-te a minha voz
quando frente à injustiça
já não possas gritar.

Não te poderei ensinar
a fabricar
umas asas resistentes e ligeiras
para que te aproximes
das estrelas que iluminam esta vida
Apenas posso
oferecer-te a minha mão
para que juntos
aprendamos a voar

CT
Mondeville
19/05/06

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O FADO DA CIGARRA

Ao som das cigarras atravesso
Uma após outra clareira e confesso
Cantam tão bem, oiço guitarras a trinar
Aqui o sol ardente não perdoa
Ando à procura, mas até procuro à toa
De um verso ultimo e que diga sem rimar

Quantas vezes procurei o meu caminho
Quantas vezes fui e vim sempre sozinho
Há quantos anos procuro o teu olhar
Tu oh musa celeste que magoas
Pois da terra não sabes, as pessoas
Procuram sem saber o começar

Musa o teu nome já esqueci?
Mulher, cujo olhar eu nunca vi
Senão húmido de lágrimas a chorar
Tu que muito sabes e adivinhas
Tu que sonhas e voas, andorinhas
Sabes como se conjuga o verbo amar

Eu amei e ainda era nova
Quero amar, amanhã e até a cova
Cada dia cada noite quero dar
Vida e sentir cá no meu ventre
A ternura, de criança adolescente
Sentir todo o carinho e cantar

Cigarra o teu destino era esse
Musa que ao sol asas e vida inteira deste
Aqui na terra vais deixando o teu penar
Quando passava por ali no verão quente
Eras só tu, que me quebrava a corrente
Contigo, feliz, aprendia a caminhar

Rieux Minervois
30/07/04

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Mulher




Sentei-me
Distraído escolhi um ramo
De oliveira
E para que não parasse o tempo
Comecei a traçar
No infinito azul
Arabescos sem nexo
No entanto
O agitar daquela vara
Provocou uma brisa
Imperceptível
Que foi trazendo grãos de areia
Apercebi-me que estava a escrever
E rápido a areia se tornou praia
A ponta da vara
Agora talhada com carinho
Com ternura
Pronto transformou
A brisa em espuma
E a espuma logo se fez onda
E a onda, imediatamente
Se ergueu ao céu
Acabara de escrever
A palavra mulher
Quando me apercebi
Ter inventado o mar.

14/03/07

ORAÇÃO AS FOLHAS

Porque será que a solidão mais triste
é aquela que se sente, não sozinho
no meio da multidão, meio caminho
no meio de meio mundo, pois não existe

Não existe e foi preciso inventa-la
o silencio da solidão padecer
o ruído ensurdecedor do mundo e aborrecer
uns gritam outros cantam e um cala

Fala consigo mesmo, endoidece
do que se diz e discute faz muralhas
sonha acordado em sua prece

Aos céus, as trevas do Altíssimo
que só escutam dogmas, certezas
pede morte breve ou amor puríssimo.

Vou falar de ti as árvores
Rieux Minervois
10-08-04

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Renda de espuma

Vi-te
Não
Imaginei-te
Sentada na areia
Da praia
Aprendendo
A fazer renda
Com as ondas
E com
Os teus dedos
Delicados
Que há muito não beijei
Inventar
A espuma
Do mar

sábado, 15 de novembro de 2008

ARCO-ÍRIS SEM MUSICA

ARCO-ÍRIS SEM MUSICA

Quantos passos foram dados
Quantos sonhos oferecidos
Quantos olhares trocados
Quantos amores já sofridos

Quantos
E quanto então
Podereis saber
Podereis cantar
Tudo é questão de número

Acumulação de palavras
Por vezes chamadas versos
Mas sem poesia alguma

Rimas por vezes engraçadas
Mas sem sentimento, vácuas

E canto

Sozinho

Canto sem voz
Rezo sem crer
Não digo

Vergonha
Tudo o que pudera dizer
Já há muito foi dito pensado
Apenas

Talvez pintado a cores
Fique mais bonito
Alegre

Pintado sim
Com palavras coloridas
Como postas em molho de arco-íris
Palavras de vento
Notas de música
Que escorregam
Divinas
Ensurdecedoras
Dessa pureza cristalina
Que fura os tímpanos de gigantes medonhos
E que vence aqui
E agora
O medo
Dos sonhos de criança
Nunca realizados

Carlos Tronco
Rieux Minervois
1 de Agosto 2004

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A fonte dos sonhos

Quando penso em que ponto vou beijar
Aquela, que os meus pensares ilumina
Vejo os cabelos já soltos, traquina
Sorrindo, com carinho e sonhar

Vejo, oferta a pele daquele pescoço
A orelha que escuta a minha prece
A mão que a minha mão aquece
O olhar tão profundo como um poço

Profundo, onde penso me deitar
Esquecer, assim, distâncias e impossíveis
Aceitar das águas, a carícia fresca, o cantar

Gota a gota, corre húmida a verdade
Nessa fonte o destino nasce agora
é o sonho, combatendo a saudade

Ultimas palavras
Rieux Minervois
11/08/04

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O PESO DAS PALAVRAS

Estamos condenados
A sentir nas palavras
O pensar das palavras
O carinho das palavras
O sublime das palavras
O amor das palavras

Estamos condenamos
Porque o tempo passou
e a distância ficou

Condenados a ouvir
No que escrevemos
A música
Do absoluto
E Crer
Acreditar
Que tocaremos
A impalpável felicidade
Onde conduz
O difícil caminho do alto

Estamos condenados
E procuro
As palavras têm sexo?
As palavras fazem amor?

Só sei que as palavras
Também fazem
Chorar
Quando proibidas
Pelo ser querido
E condenam
Ao silêncio
A indizível música
Da alma.

CT
In “O que é a vida afinal?”
Caen
22/08/04

terça-feira, 11 de novembro de 2008

SUPLICA

Livres pensamentos à toa
Ao pé do teu leito
Deixo divagar
Sim, Gosto de ti
E sabes bem
Que o " G"
é a primeira letra do verbo amar

Vejo-te adormecida
Abandonada
Sonhando com rosas brancas
De que tanto gostas
Não ouso com os meus dedos
Nem ao leve tocar-te
Beijo o ombro que desce sobre as costas
Sinto o perfume destas flores sublimar
A essencia do carinho
Que me mostras
Peço aos céus que o teu olhar
Me veja qualquer dia de mãos postas

CT
Caen
28/08/04
in "O que é a vida afinal?"