sábado, 29 de agosto de 2009

Sagres



O mar parecia apenas água
de olhos azuis
como o azul do infinito.

Convidava a beija-lo
pois fazia-se bonito
o mar tal um amante
terno, doce e bendito

Convidava para o largo

Mostravam o caminho
a ausência de nuvens
adiante partidas

O ar quente
ar sem chuvas

As rochas, de mãos erguidas
quiseram também partir
ali ficaram perdidas

Sonhos de duros rochedos
sortes de almas sofridas

Vi navios
também velas,
distraído
pus-me a sonhar
lembrei-me de caravelas
deitadas por esse mar
lembrei-me um instante do mundo
dito redondo, mas chato
e em vez de aproveitar
uma vida ao desbarato
como as rochas
pus-me a sonhar...

Esqueci-me dos medos

Vi-me um instante marinheiro
um quase navegador
deixei-me levar ao mar
para amordaçar a dor

O mar estava frio
e cedo me acordou
em vez de ter um navio
rápido o sonho acabou

Sentado em um rochedo
rochedo da ponta de Sagres
segredos São Vicente do Cabo
Agora tu também sabes

Carlos TroncoC
Sagres
25/07/06

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Omaha Beach



Um balde, de água
e no fundo perdido
de areia, um grão
por sereia esquecido

Outrora caíra; penteava o cabelo
na palma da mão
sorri hoje ao vê-lo
brincava a criança com a pá então

Verão e na praia, muito divertida
sonhava esquecendo o tempo da escola
altas torres, castelos, assim corre a vida

Na praia, do mar, pode ser princesa
o tesouro são conchas, o cofre a sacola
banquete servido, de areia é a mesa.

Carlos Tronco
Colleville sur mer
11/07/06

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Quando cai o céu perde o mar o verde




O horizonte havia desaparecido
e já não era possível distinguir
a linha onde o céu tocava o mar
numa perfeita união de cores
uma não menos
perfeita comunhão de elementos.

Porque já não acreditavam em um Deus
que os havia esquecido
junto ao salgado
agora igrejas e capelas
ofereciam o seu reflexo
não ao infinito
mas sim ao profundo.

Pairavam algumas gaivotas
hesitando entre um ar
que as deixava voar
e um liquido que as alimentava.

De vez em quando
deixavam cair dos bicos vorazes
algum mexilhão
para constatar
o quanto dura é a terra
o quanto a vida é frágil

O barco ia afastando-se de Saint Vaast la Hougue
com o barulho ensurdecedor
dos motores diesel
já cansados
procurava recordar
que só o esquecimento
permite avançar.

O celeste diluíra-se no oceano
e este por sua vez,
procurava
abraçar as estrelas

Carlos Tronco
20/08/06
Ile de Tatihou

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A água sabe



Deixa-te levar canoa
Que o rio sabe o caminho
A água não corre à toa
Desce sempre um bocadinho

Tem por destino, o mar
Sonha um dia ser salgada
Quando com ele se deitar
Entrega-se para ser amada

A água traz a frescura
De longe, dos altos cumes
Quando o mar é só loucura

Quando o rio na foz morre
Acabam também os ciúmes
E depois só vento corre.

Carlos Tronco
Caen
05/07/06

domingo, 23 de agosto de 2009

Fado dos pais sem sonhos


Tinhela-Concelho de Valpaços

Porque me negas tu Cristo
Quando afirmo que existo
E me proponho rezar
Levas-me os pais que adoro
Com o tempo que passa e choro
Só por não poder gritar

Desce da Cruz e vem ver
Aqueles que fazes morrer
Porque lhes tiraste os sonhos
Já quase não acreditam
Que ainda vivem e meditam
Até lhes roubas os olhos

Eu sei és filho de um Deus
Que na terra eram judeus
Aqueles que te educaram
Não te vingues deste mundo
Olha bem, vê que no fundo
São seres que já se amaram

Senhor Deus tem piedade
E se for necessidade
Leva-me a mim para o inferno
Se és o Deus verdadeiro
Aceito partir, eu primeiro
Compreende o meu drama interno.

Carlos Tronco
Mondeville
19-06-06

sábado, 22 de agosto de 2009

Horizonte olhado, sonho consumido




Princípios de uma tarde que promete ser límpida
o azul do céu, apenas deixa ver
a imensidão do manto, suavidade da túnica
tudo o que o infinito nos pode prometer

Sonhos sim. Quem sonha tem esperança
de a uma nuvem frágil, se poder agarrar
e assim mimado, como uma criança
voltas sem fim, ao mundo, levemente dar

Comparado a Deus, ter poder de chuva
e até aos réus, poder perdoar
ser rei de Inglaterra, e “fiel” a Cuba

Sonho realizado, docemente pousar
e depois descer, tal é o destino
à terra sagrada, que um Deus nos quis dar.

Carlos Tronco
Mondeville
07/06/06

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Mar também é água

Naquele tempo, vivia no fundo do oceano
Um Deus, que só tinha de humano
O olhar; um dom dos céus.
Entre rochedos e o ar
Corais de todas as cores
Não tinha outros amores
Que ver o tempo passar.

O tempo devagar corria
é sabido de um qualquer
e não tendo o Deus mulher
pouco a pouco, a cabeça perdia.

Logo, esse Deus algo humano
Em vez de conquistar
Diana, Vénus, Afrodite
Ou qualquer deusa bendita
Contentava-se de cobiçar
Das sereias, a mais bonita
...são mais as mangas que o pano.

Carlos Tronco
Mondeville
24/05/06