sexta-feira, 17 de abril de 2009

Fui




Que te dizer, senão que a distância queima a esperança, como o sol queima a seara?
Vimos o verde trigo ondular em verdes campos e, com o ondular da brisa crescer a vontade.
O trigo faria rodopiar a mó do moinho. A mó faria girar as velas tão brancas e as velas?
As velas acatariam os ventos de outras paragens.
Como sabes, são a loucura dos ventos que transportam o sopro dos meus beijos.
Disseram-nos, que o verde trigo antes de ser cegado, havia de amadurecer.
Então esperamos. E as tempestades foram muitas. E o trigo foi-se dobrando a uma vontade superior.
Esta regia o mau tempo. O trigo não amadureceu. Mas os cabelos foram-se tornando brancos.
Quem disse que os velhos não amavam? Amam. Mesmo em silêncio. Mesmo quando a dor sufoca a voz
E as palavras engolem a garganta. Talvez cada dia perca um pouco mais o juízo.
E já não saiba pedir que a tua mão me proteja de mim.
Continuarei no entanto, como dizia o poeta, a amar-te baixinho, para que o teu Deus não nos castigue.
Ele que inventou a distância, detesta o amor, que cria a proximidade.

Carlos Tronco
Mondeville
17/04/09

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