terça-feira, 17 de agosto de 2010

Santiago Mata-mouros




Depois de um ano de incertezas profissionais, aqui estava de novo, em Galiza, sentado frente à ria de Noia e Muros, a escassos quilómetros de Portosin. Tinham passado 13 anos. A minha filha mais velha tem agora doze, e há treze anos tinha lutado com sucesso para obter a qualificação de “professeur certifié” na área da mecânica aplicada. Desde então, exerci em vários estabelecimentos de ensino técnico e superiores, uns anos com mais facilidade, outros com mais dificuldades, mas em geral tentando transmitir aos alunos, um pouco do meu conhecimento técnico adquirido não somente nos bancos da escola como também em varias empresas privadas de quem fui empregado quando mais jovem. Como o tempo passa! E nada muda.

Sempre a mesma promessa de felicidade da parte de quem nos quer submissos, governar. Sempre as mesmas palavras de ordem para “papanatas”:
-Travaillez plus pour gagner plus!

Uma porra! …assim vão enchendo os bolsos e alimentando o sistema bancário helvético, enquanto a massa anónima dos trabalhadores, vai perdendo fé e esperança. Vai-se admitindo que ao fim e ao cabo, são todos iguais, vai-se admitindo a necessidade de um poder forte, “fazedor” de milagres como no filme “O botas e o Galego” que há muito já quase esquecestes. Vai-se contentando com histórias de milagres, de meigas e fadas e sofrendo a incultura ultra securitária de quem apenas defende os interesses da sua casta, senão os próprios interesses. Assim nasce uma nação próspera para alguns e miséria e maldição para quase todos.

- E porque é que o povo não se revolta, perguntareis?
Porque o principal dirigente, se afixa com beldades com quem a maioria da população masculina desejaria copular. Em uma palavra, todo um povo financiando as putas da República com a impressão de, por isso, beneficiar também do bordel, bordel onde apenas os outros comem.

-E quando o bordel por telepatia já não chegar para contentar o povo?
Haverá sempre um papa, um rabi, um mollah para mostrar o caminho do paraíso, para palrar de felicidade, só que, os milagres, nem em Fátima nem em Lourdes acontecem todos os dias e dar a mama à religião custa cada dia mais caro. Caro tão ou mais que os seus compadres militares. Quanto não custa hoje em dia criar uma guerrita para entusiasmar o Zé-povinho?

Alguém se lembra da heróica luta do povo afegani contra o invasor soviético? Alguém se lembra do principal aliado do “ocidente livre” , financiado e treinado por fundos obscuros, que lhe permitiu adquirir, por exemplo mísseis Stinger capazes de abater um helicóptero como uma caçadeira abate uma perdiz ou um cajado duas lebres? Já esquecestes claro; que um Deus vos perdoe. Já esquecestes, mesmo se todos os dias vos falam no heróico combate contra o mal absoluto, da santa irmandade ocidental...milagres hoje em dia custam caro e santos, que como Francisco faziam votos de pobreza, já os não há. Então em vez de investir no bem comum de toda uma população, isto é, em serviços públicos, ao contrário, pilha-se o bem comum de uma nação. Os larápios, deixam de ser quem liquida empresas e despede trabalhadores, mas vêm a ser quem alimenta toda esta máfia com o seu suor, nas fábricas, nos campos, em todo recinto onde trabalho é lei. Fecham-se hospitais, despedem-se professores, aumenta-se a idade legal de aposentamento. Nivela-se pelo mais baixo e inventa-se uma palavra de ordem que tudo justifica, até as maiores imbecilidades: Crise!!!

Haja “tevê”e futebol e nunca mais se repetira 1789! Quantas mais forem as “Bastilhas” a tomar, menos haverá de “Sans-cullottes” para o fazerem.
Se o povo desde sempre parece andar de saia, se já não se sabe quem ainda veste calças, parece cada dia mais óbvio que o povo já não tem tomates.

Este ano o 25 de Julho calhava um domingo. É Ano Santo. Fui-me a caminho de Santiago. O polvo à feira estava estupendo e o albariño ainda melhor.

Carlos Tronco
Linteiros- Miñortos
27-07-10

1 comentário:

Anónimo disse...

Só posso aplaudir de pé,este texto escrito "com tomates" e cheio de verdade!Parabens!
E que sirva para reflexão,a muito boa gente...
Fiquei com água na boca,pelo polvo e pelo Alvarinho,fssst!