sábado, 9 de maio de 2009

Cegadas



Vedes
Aquele espantalho
Ali abandonado
No meio da ceara?
Entre as espigas maduras
De barbudo centeio
Entre as rubras papoilas
Irmãs do pão
Vedes aqueles braços descarnados
Que imploram os escuros céus?
E ouvis o pranto
O vento desesperado
Uivar como famintos lobos?
E os rebanhos?
Tresmalhados
Espantados pela cena
Que se precipitam
Do alto da falésia
Como um só ser?

Não
Não vedes
E ainda menos sentis
Que o espantalho são apenas
Dois paus cruzados
Vestidos de um casaco velho
Ornado de um chapéu furado
Talvez roubado
Derrubado desde a primeira tempestade
Não vedes que teima na posição erecta
E de pé
Apenas se expõe
A inclemência
Dos elementos
Para
Mais depressa
Desaparecer
Ser esquecido?

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