sexta-feira, 1 de março de 2013


Fado de meias tábuas

Pinheiro, vou-te cortar
E levar-te junto ao mar
Pois tábuas quero fazer.
Construirei um caixão
Onde não quero, perdão
Morar, mesmo se morrer.

Se ele da para enterrar
Dará, para ir ao mar
As sereias conhecer.
Com um mastro e uma vela
Será a nau a mais bela
E assim te convencer.

Claro, não sei navegar
Para quem tem voz, cantar
É a única solução.
Se não for fado é lamento
Mesmo a lutar contra o vento
Será a nau da paixão.

Com três tábuas navegar
E o vento a colaborar
Se um dia avistar terra,
Digo, abraça-me cheguei
Vim sem coroa, não sou rei
Peito nu, não quero guerra.

Trago apenas o coração
E se tu me deres a mão
Daremos voltas ao mundo.
Daqui para a frente andar,
Primeiro há que serrar
O madeiro: o mar é fundo.

Um dia chegado à praia
Perguntar-te-ei catraia:
-Lembras-te do que prometi?
Os anos já foram muitos
Uns perdidos outros juntos
Mas sempre gostei de ti.

Carlos Tronco
Vendôme
01/03/13


1 comentário:

Cidália Ramada disse...

Bonita essa nau catrineta afoitada pelo vento a favor das marés e segue carregada apenas da vontade leve das palavras, de quem a escreve...