quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A criação de um mundo





A criação de um mundo 8

Acordei sonhando. A noite fora um pesadelo. Senti-me afogar no dilúvio das torneiras esquecidas abertas, tal era a minha sede de purificação. Abandonei-me a ferocidade das ondas e não larguei o leme. Novo Ulisses, resisti a noite inteira a tentação das sereias de tão amarrado estar ao destino da obra.
Dormi e sonhei. No sexto dia, o sonho tornou possível a poesia.
Não uma poesia de palavras onde a métrica compete com a inutilidade. Não. Não uma poesia escrita para evitar que a verdade seja dita.
Sim, uma poesia simples.
Uma poesia de gestos onde o verbo segue a linha traçada pelo escopo, como arado que fere a terra para lhe dar vida.
Poesia de actos.
De sorrisos.
De esperanças.
Onde se sente atingir a plenitude, porque o gesto é conseguido e o conseguido corresponde a doação do melhor de si para o bem comum. Onde cada gesto é uma perpétua aprendizagem e cada aprendizagem, um passo no caminho da perfeição.
Aqui um chuveiro.
Além um radiador.
Um espelho.
Uma luminária.
Procurando a harmonia.
Tentando obter o belo.
Sabendo que gostos e cores não se discutem.

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